- Poesias
- Postado em
ESCOMBROS
“Eu sou aquela casa abandonada”
Ádila Cabral, em A Casa Fria
Doído resisti, e não mergulhei nos seus braços,
estas lâminas que multiplicam-me em pedaços
e, entretanto, sinto muito a falta daquele traço
— forte, volátil, artificial e absolutamente falso,
por fora e dentro, e entre o meu sangue circulado.
Se está, as horas são vastas: permaneço acordado
sobre os breus da esquina, com os seus fantasmas
— eles vêm e voltam; vão, e habitam nesta senzala,
de onde exala o hálito acre da sua mistura áspera.
Observo os estalos da vela… Ouço a luz do despacho.
Bebo das farinhas amareladas… Como das cachaças.
Se não está, sou somente aquela casa abandonada...
Atualizado em: Seg 29 Maio 2023