person_outline



search

POEMA SEM FIM

Quantos anos tem esse poema
que nem mesmo às mãos revelo?
 
Venho com ele desde antes do ventre materno
quando toda poesia era fluida e molhada
pelas águas amnióticas dos oceanos passados
 
Talvez o tenha herdado do meu pai
e ele do ativismo dos seus antigos ancestrais
que como um longínquo rascunho incompleto
vem se escrevendo em caligrafias invisíveis
sobre a superfície esponjosa de um papiro
que nem o ácido sulfúrico do tempo corrói
 
Na transgeracionalidade dos seus versos
acumulam-se íntimos segredos medievais
encobertos pela fina poeira das lembranças
armazenadas no interior epigenético dos DNAs
 
Se hoje reajo ao mundo com o espanto
dos deslumbrados olhares infantis que trago
é porque nasci com a predisposição ao fato
de continuar aquilo a que fui pelo ontem destinado
 
E ao amanhã mais amanhã em que não existirei 
vislumbro meu neto brincando com brinquedos de plástico
como se fizesse um longo poema dilatado
que há muitos anos ainda não foi terminado
 
Pin It
Atualizado em: Seg 17 Jul 2023

Deixe seu comentário
É preciso estar "logado".

Curtir no Facebook

Autores.com.br
Curitiba - PR

webmaster@number1.com.br