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A CRÔNICA DOS MORTOS

Os fatos mencionados em meu relato são verídicos e é possível encontrar matérias completas sobre esses acontecimentos em diversos sites pela internet. A reflexão que pretendo trazer com meu texto é a de que a morte “vive” a espreita, e de onde menos se espera ela pode surgir, sorrateira. Claro que em muitas situações a negligência e a falta de sorte acabam colaborando em conjunto para um desfecho trágico. Algumas pessoas preferem culpar o destino... mas, será que o destino pode as vezes ser tão “criativo”? Estimado leitor, observe os três casos que hoje trago até você:
O primeiro caso é o da Dona Neusa. Ela estava para receber visitas na sua casa naquele domingo, então... logo de manhã bem cedinho, resolveu ir até o supermercado do bairro para comprar algumas coisas que faltavam para preparar um belo almoço para os parentes que chegariam. Dirigiu por uns cinco minutos, estacionou e entrou no supermercado. Ela comprou batatas, queijo ralado e algumas cervejas para os seus convidados. Também comprou tempero verde, tomate e alface, para a salada. Dona Neusa pagou a conta, colocou as compras no carro e retornou imediatamente para casa. Estava animada para oferecer um delicioso almoço. Ela só não sabia que, a partir daquele momento, estava dando carona para a morte.
Já em casa, Dona Neusa colocou as sacolas sobre a mesa da cozinha e começou os trabalhos. Separou os ingredientes em ordem para facilitar os preparos. Abriu a embalagem da alface na pia, pois precisava lavar a hortaliça; mas antes que pudesse abrir a torneira, sentiu um intenso choque em uma das mãos. Uma fisgada; na verdade, foi uma picada. Escondida por entre as folhas da alface estava uma cobra venenosa; era uma pequena jararaca que havia picado a Dona Neusa. A cobra jararaca, mesmo que ainda filhote, possui um veneno extremamente perigoso e pode levar uma pessoa a morte facilmente.
Dona Neusa gritou de dor no momento da picada e assim que percebeu de onde tinha vindo o ataque, entrou em pânico. O coração disparou, espalhando ainda mais rápido o veneno pelo seu corpo. Estava sozinha em casa e certamente após a picada, não conseguiria dirigir até o pronto socorro. Dizem que Dona Neusa chegou a ligar para a emergência pedindo ajuda, mas quando os socorristas chegaram ao local, ela já estava morta. Provavelmente não foi o veneno da jararaca que a matou, mas sim a intensa descarga de estresse que desencadeou um ataque cardíaco na mulher.
O segundo caso é o da Dona Tereza. Certo dia, quando ela estava em sua propriedade trabalhando com sua criação de gado, encostou sem perceber em uma taturana; um pequeno animal também conhecido como lagarta de fogo. A taturana possui “espinhos” distribuídos por todo o seu corpo e ao tocar nessa lagarta, os “espinhos” liberam uma perigosa toxina que no início parece queimar como fogo; daí o motivo para ser chamada de lagarta de fogo. No entanto, a toxina vai causando danos no organismo, capaz de matar uma pessoa. Ao tocar na taturana, Dona Tereza sentiu a ardência, mas achou que logo a incomoda sensação sumiria naturalmente.
No dia seguinte Dona Tereza passou mal, vomitou e foi levada ao hospital. Ela nem imaginava que o mal estar que estava sentindo era por causa do contato que teve com a taturana, por isso, não informou o médico. Foi tratada como se estivesse com uma virose. Voltou para casa e logo começou a sentir fortes dores de cabeça; precisou voltar com urgência ao hospital. Exames detalhados foram feitos e detectaram veneno no sangue de Dona Tereza; foi aí que ela lembrou que poderia ter sido o contato com a lagarta de fogo. Seu quadro clínico piorou, a toxina havia causado um sério dano aos rins e Dona Tereza veio a falecer em pouco tempo.
O terceiro caso é o mais bizarro. É a história de um mergulhador chamado Donald, encontrado por bombeiros em uma área onde ocorreu um grande incêndio florestal. Um fato muito estranho era que o corpo do mergulhador estava muito longe de qualquer lugar onde se pudesse praticar mergulho. O mergulhador morto estava vestido com sua roupa de mergulho, pés de pato, máscara e cilindro de oxigênio. Como ele foi parar naquele local? Essa foi a principal pergunta feita pelos bombeiros, e em seguida, por toda a imprensa. Uma pesquisa foi feita para desvendar o mistério do mergulhador; até que a resposta finalmente chegou para esclarecer tudo.
Foi descoberto que aquele mergulhador morto estava desaparecido há dezessete anos. Isso mesmo... há quase duas décadas. Os investigadores do caso descobriram ainda que tudo teria começado quando o mergulhador desapareceu em um lago onde costumava praticar mergulho. Seu corpo não foi encontrado na época e então foi dado como desaparecido. Anos mais tarde, um grupo de mergulhadores esteve no mesmo lago e avistaram o corpo do homem no fundo do lago; porém, não conseguiram resgatar o corpo por falta de equipamentos adequados e baixa visibilidade.
As autoridades foram avisadas, mas antes que uma força tarefa fosse formada para uma missão de resgate ao mergulhador morto, algo estarrecedor aconteceu. A trágica e inacreditável história do mergulhador não tinha chegado ao seu fim; ainda teria o seu último capítulo, digno de ser contado em um filme dramático. No mesmo período, um grande incêndio acontecia em uma área de floresta que ficava a quilômetros de distância do lago onde o mergulhador morto estava. As equipes de bombeiros combatiam o fogo por terra e o helicóptero do corpo de bombeiro fazia o auxilio transportando e jogando (despejando) água do alto.
Em combates a incêndios, o helicóptero utiliza o Bambi Bucket (uma bolsa de água acoplada a barriga da aeronave) que pode levar em torno de 500 litros de água por vez. Esse equipamento permite que a água seja coletada de qualquer reservatório, piscina, mar ou lago que esteja mais próximo do incêndio. A água é levada e liberada sobre o fogo para apaga-lo. E foi justamente com esse equipamento que “por acaso” o mergulhador morto foi “pescado” no lago, transportado na Bambi Bucket e jogado no incêndio florestal. Apesar de estar morto por dezessete anos dentro de um lago, o corpo de Donald estava incrivelmente bem conservado. Segundo os especialistas, a roupa de borracha que ele usava, as características químicas e a temperatura da água do lago formaram uma combinação favorável para a preservação do corpo durante tanto tempo.
Se essas histórias não fossem reais, os leitores poderiam até dizer que se trata de uma obra de ficção digna dos filmes de Hollywood. Mas essas mortes inusitadas acontecem quase todos os dias, e cada uma dessas mortes poderia inspirar um livro ou um filme que contasse sua história. Por vezes, parece que a pessoa estava no lugar errado, na hora errada; por outro lado, também parece que vivemos sobre a influência de alguma “natural” lei caótica que procura a todo o momento uma maneira de nos prejudicar, de nos eliminar; como um inimigo invisível nos caçando.
A verdade é que a morte sempre nos parece cruel. Ela acaba deixando um “gostinho de quero mais”. Ninguém quer realmente morrer; todos querem viver. A vida é pura resistência existencial. Mesmo que digam que a morte não é o fim e sim um recomeço, gostaríamos de não precisar “começar” tudo de novo. Seria bom viver para sempre. Esses são pensamentos involuntários, instintivos do ser humano. Sabemos que o entendimento de vida e morte é complexo e vai além do que possamos compreender. Não se trata de religião ou ciência; provavelmente seja algo maior que sequer nós conseguimos imaginar.
Frequentemente a morte resolve pregar suas peças. Será que ela se acha engraçada? Estaria ela só se divertindo? Talvez ela queira apenas nos lembrar de que morte não é o contrário de vida. O contrário de morte é nascimento; vida é o que fazemos no intervalo entre o nascimento e a morte. Alguns dizem que a partir do momento em que nascemos, começamos a morrer, ou seja, o nascimento é o início de um caminho que cedo ou tarde no conduzirá até a morte. Por isso, a importância de viver; de evoluir. Se for assim, aproveite a vida.
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Atualizado em: Qua 9 Jun 2021

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