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Bicho Papão

"Vai-te papão, vai-te embora
                                       de cima desse telhado,
                                       deixa dormir o menino
                                        um sono descansado."
   Denis caminhava pela neve naquela manhã fria, em direção a escola primaria de San Emilio, Espanha.
   Na mochila marrom carregava algo que ninguém deveria ter, uma bomba, Denis passou pela entrada da escola pelos portões, subindo as escadas para o segundo andar, no corredor se esbarrou em Luna, que corria atrás de uma pequena lagartixa de mais ou menos 3 centímetros.
   Luna tinha cabelos loiros, usava dividido em dois prendendo nas laterais da cabeça.
- Olha por onde anda!! – Disse Denis
- Eu estou olhando para onde eu ando, mas todo mundo pisa em uma bosta de vez em quando- disse a garota sorrindo com um ar superior.
   Denis não conseguia pensar em nada para retrucar a menina, e nem queria já sabia das consequências de responde-la, foi em direção da sala, enquanto Luna perseguia o animal.
   Durante o intervalo, Denis foi para seu lugar referido na escola, um esconderijo, entre três paredes que se encontrava formando um abrigo, com teto e uma saliência para se sentar, se localizava atrás a escola e poucas pessoas conheciam o lugar, portanto poucos vinham tão longe apenas para comer a merenda. Ali era seu cantinho, se sentia protegido.
   Naquela manhã sua mãe tinha lhe dado croquetas, para comer de lanche e alguns pretzel. A manhã estava clara e límpida, tinha neve no chão, mas ali estava quentinho e confortável.
   Ao longe viu alguém que não queria que estivesse ali, Luna se aproximava com mais duas amigas, Sena e Nina.
- Achei a lagartixa - disse apontando pra Denis, chegando mais perto disse – li em algum lugar que lagartixas são canibais, e você parece com fome - disse olhando para os pretzel parcialmente comido- se você está com fome fazer o que né? Vou te dar algo para come - disse tirando uma lagartixa branca do bolso.
   O espanto no olhar de Denis foi genuíno, arregalou os olhos, e em sua mente só pensava em fugir, escapar dali.
   Estava encurralado e as meninas o seguraram, prenderam os braços de Denis para trás colocando o de joelhos no chão frio.
- Vamos, não seja tímido - disse Luna abrindo a boca do garoto com força, colocou a lagartixa dentro - mastiga direitinho, vinte mastigadas antes de engolir - disse imitando uma mãe e mantendo a boca e o nariz do menino fechada.
   A angustia tomou a mente de Denis, queria ter forças, queria correr, gritar. Sentia a lagartixa dentro da sua boca, caminhando sobre sua língua, queria respirar, começou a babar e se debater, e engoliu.
- Vou ajuda-lo a engolir- disse Sena rindo e ajuntando um punhado de neve e colocando na boca do menino.
- Você engoliu mesmo ela - disse Luna rindo e soltando ele - você é nojento, seu apelido agora é lagartixa - disse Luna rindo, junto com as amigas.
   Sentia-se fraco e sem folego, chorava, queria bater em todas elas, queria ficar deitado naquela neve fria, queria desaparecer.
   Alguns minutos se passaram até elas pararem de rir.
- Já deu por hoje, amanhã lhe damos mais para comer- disse Luna rindo e correndo acompanhada pelas amigas.
   Denis demorou para se recuperar. Mas quando o fez não pensava em mais nada além de vingança, aquela não era a primeira das muitas vezes que Luna e as amigas o fazia sofrer. Mas naquele dia tinha se preparado, tinha roubado do tio uma bomba caseira que ele se orgulhava em ter feito.
   A bomba tinha uma tela de celular nela que exibia números como em um cronometro, só precisava ativa-lo e escolher o tempo certo para explodir
   Chegando na sala de aula viu Nina cochichando para as amigas, provavelmente sobre o que tinham feito com ele no intervalo.
   Nina era a única que compartilhava a mesma turma que ele, Luna e Sena eram mais velhas, portanto estudavam em outra sala.
   No final da aula Denis se aproximou da mochila de Nina e colocou a bomba, o cronometro marcava 7 minutos até explodir.
   Sena, Luna e Nina se encontravam depois da aula e iam para casa juntas já que moravam perto. Denis as seguiu para fora escola. Queria ver o efeito que a bomba teria, ansioso cada segundo valia um como uma eternidade.
   Seguiu-se um barulho alto, chamas e fumaça se formaram aonde elas estavam. A bomba explodiu enquanto elas atravessavam a rua. Denis não viu mais nada apenas correu...
   Naquela noite mamãe cantou para ele, enquanto o confortava:
                              Nana nenem
                         Que a cuca vem pegar
                           Papai foi pra roça
                      Mamãe foi trabalhar...
   Aquela noite foi a noite mais horrenda para Denis, e sua última, nos sonhos via a pele das três garotas derretendo sobre os ossos, elas gritavam e gemiam dentro do fogo. Isso porem não era o pior que via. Nos cantos de seu quarto via uma criatura gigantesca com uma boca enorme e com dentes afiados.
   O pesadelo ia e vinha, ele acordava tremendo e soando, algumas vezes gritando, sentia-se culpado, com febre e cansado, aqueles sonhos estavam destruídos ele, toda vez que acordava se convencia que não queria dormir novamente e todas as vezes voltava ao mesmo sonho, ele estava espreita, Denis não tinha sido um bom menino, ele vinha lhe pegar com aqueles olhos vermelhos e o estômago que parecia um forno ardente, gigantescas mãos prenderam a cintura de Denis, que se viu indo direto para a boca da criatura.
   Lembrou da lagartixa, estava sendo devorado como ela foi...
   Luna tinha visto suas melhores amigas explodirem, bem na sua frente, ao lembrar não conseguia parar de chorar, se agarrava ao seu ursinho como se isso pudesse confortar o vazio que sentia, ela tinha tido algumas queimaduras da perna. Quando suas amigas explodiram Luna tinha corrido para o outro lado da rua esperando que as amigas a seguissem, mas elas morreram, e Luna estava sozinha.
   Ela foi socorrida depois, não se lembra ao certo de tudo o que se deu depois daquele momento, só lembra de chorar e chorar. Seu pai tinha lhe trazido um chocolate quente com marshmallow para ela se acalmar, ele lhe tinha vestido o pijama e cantado algumas canções de ninar: 
                        Nana nenem
                   Que a cuca vem pegar
                     Papai foi pra roça
               Mamãe foi trabalhar...
- Eu não tenho sido uma boa menina- disse entre os soluços.
- Você é uma boa menina sim- disse seu pai abraçando e cantando mais musiquinhas, foi penoso para Luna pegar no sono, quando dormiu seu pai saiu do quarto e a deixou com seus sonhos.
   Os sonhos não tardaram a aparecer, sentiu que algo lhe espiava, por todos os cantos, os calafrios lhe subiam pela nuca. O terror se apoderou dela, arregalou os olhos só sentia pavor, e sua mente vagava pelas lembranças de tudo que já tinha feito, lembrou de Denis, de quando o obrigou a tirar as calças e deixou ele tremendo sentado na neve, quando jogou uma centopeia dentro dos casacos do garoto, quando o mordia ou beliscava ele.
- Eu fui uma garota má- dizia a si mesmo no sonho, escondendo o rosto no ursinho.
   Sonhando via as gavetas do armário abrir e fechar sozinhas, as portas rangendo de um lado para outro, as luzes falhavam, piscando e a deixando no escuro por intermináveis segundos, debaixo da cama se projetou duas mãos gigantescas e branca com giz de cera, as mãos puxando para fora da cama um corpo enorme escondido sobre uma espécie de manta preta. Paralisada, não conseguia nem mesmo pensar, muito menos gritar ou fugir.
   Ela foi jogada dentro de um saco preto e arrastada ...
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Atualizado em: Qui 23 Maio 2019

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